domingo, 15 de novembro de 2015

21. Ser-se Gay...


35 anos e meio a ser-se gay devia dar direito pelo menos a estar habilitado a um magnífico automóvel sem ter de ligar o 760 300 300... É das coisas mais difíceis que há...
Não sou aquele gay dramático-perseguido pelo mundo nem nunca me senti com medo ou vergonha de ser o que quer que seja mas nunca ninguém me deu um manual de instruções que me ensinasse tudo aquilo que precisava de saber com ferramentas incluídas pra montar... A vida. Imaginem o que é o móvel mais elaborado do IKEA sem instruções de montagem e a faltar as chaves de fendas (ou lá o que é... Sou gay não percebo de bricolage).
Tive as minhas primeiras experiências bem novinho... Não tinha ainda 10... Obviamente que não sabia o que ali se passava... Só sabia que gostava... E gostava naturalmente... Nunca me questionei porque não gostava de meninas... Não... Gostava de rapazes pronto... E dos giros... 
Não vou explorar o tema infância porque não é assim tão interessante e implica terceiros, quartos, quintos e etc por aí fora que aparentemente só queriam experimentar... Continuamente mas experimentar.
Ter nascido e vivido até aos 19 anos num meio industrio-rural (tipo Trofa mas sem aquele povo absurdo) podia ter-me conduzido ao título de The only gay in the village... Mas não... Pelo menos nunca senti nenhum comportamento ofensivo... Obviamente que as pessoas comentavam e os heteros que experimentavam continuamente vangloriavam-se do uso dado ao não hetero... Enfim... Nunca tive a necessidade de me insurgir... No colégio era querido de toda a gente, era popular, tive as minhas paixonetas... Tudo aquilo que qualquer pessoa, gay ou não, deve ter... E eu tinha 2 handicaps... Era gay e gordinho... O tão popular chubby... Talvez tenha tido sorte!
Os anos foram-se passando e com 18 anos fui pela primeira vez a uma discoteca gay... Moinho de Vento... Era a primeira vez que via homens que gostavam de homens a fazerem-no abertamente... Ou pelos menos abertamente naquele sítio fechado.
Porto...1998... Inverno... Uma ruela escura sem grande movimento escondia uma discoteca muito pequena onde para entrar tinha de se tocar à campainha. Tudo isto já adivinhava um ambiente ao qual eu não estava habituado... Era o Bas Fond gay da pré democratização gay pelo menos na cidade do Porto. Pouco tempo depois de ter entrado, um homem mais velho (com a minha idade atual) fixava-me com um olhar devorador com se eu fosse um leitão da Bairrada acabado de sair do espeto... Senti-me desejado pela primeira vez... Sim porque das outras vezes eles só queriam experimentar... Continuamente. Ele era bonito, atraente, educado e eu cai... Cai e fiquei caído vários anos... Até ele se casar e ter um filho... A história repetia-se.
Onde está o capítulo do manual de instruções que te explica que na comunidade gay é suposto teres atração e sexo por um homem mas nunca te apaixonares? Sim... Porque 35 anos e meio depois nada mudou... É-te dito que és uma princesa se gostares de alguém... É suposto só usares... E muitos... Se possível ao mesmo tempo até.
Os anos passaram e alguns relacionamentos falhados mais tarde aventurei-me numa incursão de macho gay... Uso fortuito de gajo jeitoso a repetir se fosse gostoso mas pondo de parte qualquer tipo de emoção... Durou pouco tempo a atitude... Ao primeiro beijo já estava atordoado e ao fim da noite já dava por mim a procurar no manual: "Como eliminar uma possível paixão do corpo sendo que tem menos de 24h?" 
Onde estava o manual? Quem é que eu devia processar pela falta de manual? Alguém devia ser responsável por isso!!!
Foram 7 anos de uma bela relação com altos e baixos que acabou comigo a fazer de rena tão grandes eram os cornos... Que fazer? (Como diz a senhora que encontra um morto a boiar na levada e pensa que é um porco)
Entrar em modo macho gay novamente e sacar o número máximo possível e impossível de gajos... Mais uma vez durou pouco... Desta vez não porque me apaixonei mas porque não conseguia sentir nada senão aborrecimento... 
Capitulo: "Como não sentir um vazio deprimente após ter sexo com um one night stand?"
Eu tenho a certeza que andam a esconder o manual de mim... Eu olho à minha volta e a malta vive nesse esquema há anos e são felizes e contentes. Eu estou a exigir muito ou a ser um mau gay? Alguém me mostre o caminho da luz!!! Ou trevas!!!
Mudo-me pra Londres com a certeza que aqui tudo será mais fácil pois é uma cidade muito à frente onde se tropeça na densidade gaysal por metro quadrado. Errado!!! Piorou!... Muito!
É verdade que a quantidade de gays por metro quadrado é comparável à densidade de políticos corruptos na Assembleia da República em Portugal mas a oferta é muita, a velocidade e ritmo de tudo é gigante e a toleria é maior... Fazer sexo com um estranho mas sem drogas equipara-se a uma freira carmelita a fazer biscoitos, ter uma relação... só aberta, paixão... é pra gente maluca e amigos... Quem?... Ami who??? No hablo... 
Em cima de tudo isto se não pertenceres a uma grupeta... Já foste! És Twink? És hunk? És bear? Que tipo de bear? Muscle bear? Otter? Chaser? Para chubby bear carregue na tecla 4 e oiça as instruções calmamente... E vá tirando notas.
Não dá só pra gostar de homens? Não... Demasiadamente fácil.
Ah! Não posso terminar esta blogada sem antes perguntar: Que tendência é esta tão em voga do gay que dá tira? Que quer e não quer? Que vem e foge? 
Onde está o manual???... Pelo menos umas FAQ's! Qualquer coisa!

Sabeis que mais?

São vidas... Sem explicação!

Beijos vários,
PM

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