domingo, 18 de outubro de 2015

17. Meu rico Porto


Tendo dias de férias pra gozar, uma vez que sai da escravatura profissional que vivia em Portugal quando emigrei pra Londres, vim até ao Porto visitar amigos e família. 
Como é bom voltar casa... Aterrar no Porto faz-me sentir que sou dono desta merda toda... É a minha cidade...
Aqui posso falar a minha língua com toda a gente e toda a gente me entende... Posso dizer caralhos, fodasses e fazer os meus comentários e observações parvas, posso falar mal e bem das gentes, posso ser eu...
Comi rojões e bacalhau, pão e manteiga mimosa, lanches mistos e francesinhas... Tudo aquilo que não se deve... Mas faz tão bem à alma!
Voltar ao Porto é voltar a pertencer... A fazer parte... A ser daqui... A não ser mais um emigrante que vem de um país todo fodido economicamente que obriga as pessoas a procurar por algo melhor fora do seu conforto. Mas nem tudo são rosas... Voltar ao Porto também é ter expectativas muito altas relativamente ao que vai acontecer na meia dúzia de dias que se lá vai passar... Ver felicidade na cara dos que mais gostamos e de quem sentimos saudades como se estivessem a incorporar os pastorinhos a ver a Nossa Senhora a flutuar em cima da oliveira, comer a melhor francesinha do mundo como se esta tivesse 29 estrelas Michelin ou dormir tão bem na nossa cama como se fosse uma suíte do mais sofisticado hotel do mundo... Nada disso acontece. Os amigos e família continuam na sua vida rotineira de acordar cedo pra trabalhar, chegar a casa cansados, continuam no mesmo sítio de sempre e não há nada de novo e em cima disso já tinham os seus esquemas e planos... A comida é efetivamente boa mas não me dá orgasmos múltiplos gastronomicos, para além de que o estômago já não está habituado a estes AVC's em forma de comida... A nossa cama... A nossa cama já deixou de o ser... Já perdeu a nossa forma, já não é o ninho diário... E quem esteve já não está.... 
Nada ficou a nossa espera... Não somos assim tão especiais... Somos o filho, o primo, o irmão, o amigo emigrante que já nem chocolates e iogurtes traz... Somos importantes e acarinhados mas não somos o eixo da vida dos que cá ficaram.
Pois gerir todas estas expectativas não é fácil... Passamos o tempo todo a querer voltar cá pra aproveitarmos cada segundo em êxtase como se de uma droga incrível se tratasse e afinal parece que já nem somos de cá nem de lá... O ritmo da cidade provoca-me ataques de ansiedade... Tudo é lento... Tudo demora... Ninguém está no local marcado à hora marcada... Não há Apple Pay, não há contactless, não há transportes que te permitam não teres de pedir um carro emprestado... E ando sem Internet!!! 
Habituado, agora, a conviver com 10 milhões de residentes numa só cidade fora os milhares de turistas... Chego ao Porto e tudo parece deserto... Onde estão as pessoas? Emigrou tudo?Ninguem sai à rua? A cidade está deprimida? Não, não é uma urbanidade saloia, não me estou a armar em fino porque agora vivo em Londres... Estranha-se mesmo... Não dá pra criar um mix das duas cidades e chamar-lhe...Pondres!? Fazer uma seleção dos pontos positivos de ambos os sítios, misturar bem, deixar fermentar, forno... Tcharam! Pondres!
Bom... Daqui a nada já volto pra Londres... Tudo volta ao novo normal... Volto mais novo uns anos pois recarreguei baterias, cortei o cabelo e mais umas coisas... É bom voltar a casa! Mas onde é casa?

Sabeis que mais? "Som bidas... Emigradas" (Oporto accent)

Beijos vários,
PM


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