domingo, 25 de outubro de 2015

18. Outono em Londres...


É Outono, é Domingo, é fim de tarde... Tou deprimido!
Esta coisa de se dizer que o Outono é uma coisa muito bonita porque as folhas caem e as cores mudam, vem o friozinho, anda tudo agarradinho e romantico... Treta! Outono è tempo para deprimir... Toda a gente tem esse direito... Principalmente quem vive em Londres! Sim quem vive em Londres tem mais direitos... Em Portugal ainda anda tudo a correr maratonas, a fazer a volta a  Portugal em bicicleta, a ir ver o por do sol à praia ou entretidos a fazer do Facebook uma Assembleia da República do povo e por isso só têm direito a ficar um bocadinho aborrecidos. Eu como estou em Londres, estou praticamente quase a ir ao GP pedir Prozacs e Zolofts em cama de rúcula selvagem a acompanhar um Coulis de Victan... 
O frio estala-te a cara como se fosses em autóctone de uma dessas terras que diz que ficam por detrás dos montes em pleno Janeiro. A chuva de molha tolos ou todos (nunca percebi bem estes dizeres populares) entra por todas as frinchas que possas ter no corpo e ainda as que virás a ter, cola-te o cabelo à cabeça deixando-o bem oleoso e sentes-te na obrigação de apanhar com ela nas trombas porque é Londres... Faz parte. 
Entra-se num metro, num café, numa Sex Shop... Qualquer estabelecimento... É um calor demoniaco ao nível de uma estufa de bananas Chiquita em Miami em Agosto! Ainda gostava que me explicassem a lógica deste povo de andar quase de bikini na rua quando vão sair à noite agindo como se estivessem na red carpet a ser fotografados pra Vogue ou até mesmo pra revista Cristina e depois aquecem os sítios de tal forma que deviam promover limpezas de pele gratuitas só pelo simples facto de se estar lá dentro... Não há impureza que não saia.
Estas e outras são questões logísticas que podem ser contornadas ou suportadas, o pior é o resto... O outono por si só é uma altura do ano que nos torna mas permeáveis a depressões (vi um programa do Goucha com esta temática) e junta-se a este facto o facto de um emigrante cá sentir-se deslocado, sozinho, solteiro (quase que por opção  própria)... Enfim...As queixas todas de um romântico mimalho!... Estou a falar de um amigo meu... 
O factor Domingo... Será o Domingo internacionalmente o dia da depressão?
Ainda não vi um evento no facebook... Há dia de tudo e mais alguma coisa e não há o domingo depressivo porque? Ninguém devia ter o direito de estar feliz ao Domingo... É dia de reflexão... Dia do Senhor... Dia de estar deprimido! 
Ai e o Sunday roast no pub tão típico e tal... Umas batatas assadas com uns legumes e um bocado de carne? Isso é suposto fazer-me feliz só porque o resto dos dias sou mantido a sanduíches? Passeios no parque? Com quem? Ao frio? Museus? Pejados de turistas chineses que tiram fotos a tudo inclusive a ti por te acharem exótico? Compras? Gastar as libras que precisas pra pagar a renda?
Em suma... O Outono, os Domingos e a solidão deviam ser proibidas pelo menos na Europa, uma vez que não está nos meus planos emigrar pro Butão ou qualquer outro país onde o nível de exotismo esteja acima do nível de East London.

Sabeis que mais?... São vidas...sem fármacos!

Beijos vários,
PM

domingo, 18 de outubro de 2015

17. Meu rico Porto


Tendo dias de férias pra gozar, uma vez que sai da escravatura profissional que vivia em Portugal quando emigrei pra Londres, vim até ao Porto visitar amigos e família. 
Como é bom voltar casa... Aterrar no Porto faz-me sentir que sou dono desta merda toda... É a minha cidade...
Aqui posso falar a minha língua com toda a gente e toda a gente me entende... Posso dizer caralhos, fodasses e fazer os meus comentários e observações parvas, posso falar mal e bem das gentes, posso ser eu...
Comi rojões e bacalhau, pão e manteiga mimosa, lanches mistos e francesinhas... Tudo aquilo que não se deve... Mas faz tão bem à alma!
Voltar ao Porto é voltar a pertencer... A fazer parte... A ser daqui... A não ser mais um emigrante que vem de um país todo fodido economicamente que obriga as pessoas a procurar por algo melhor fora do seu conforto. Mas nem tudo são rosas... Voltar ao Porto também é ter expectativas muito altas relativamente ao que vai acontecer na meia dúzia de dias que se lá vai passar... Ver felicidade na cara dos que mais gostamos e de quem sentimos saudades como se estivessem a incorporar os pastorinhos a ver a Nossa Senhora a flutuar em cima da oliveira, comer a melhor francesinha do mundo como se esta tivesse 29 estrelas Michelin ou dormir tão bem na nossa cama como se fosse uma suíte do mais sofisticado hotel do mundo... Nada disso acontece. Os amigos e família continuam na sua vida rotineira de acordar cedo pra trabalhar, chegar a casa cansados, continuam no mesmo sítio de sempre e não há nada de novo e em cima disso já tinham os seus esquemas e planos... A comida é efetivamente boa mas não me dá orgasmos múltiplos gastronomicos, para além de que o estômago já não está habituado a estes AVC's em forma de comida... A nossa cama... A nossa cama já deixou de o ser... Já perdeu a nossa forma, já não é o ninho diário... E quem esteve já não está.... 
Nada ficou a nossa espera... Não somos assim tão especiais... Somos o filho, o primo, o irmão, o amigo emigrante que já nem chocolates e iogurtes traz... Somos importantes e acarinhados mas não somos o eixo da vida dos que cá ficaram.
Pois gerir todas estas expectativas não é fácil... Passamos o tempo todo a querer voltar cá pra aproveitarmos cada segundo em êxtase como se de uma droga incrível se tratasse e afinal parece que já nem somos de cá nem de lá... O ritmo da cidade provoca-me ataques de ansiedade... Tudo é lento... Tudo demora... Ninguém está no local marcado à hora marcada... Não há Apple Pay, não há contactless, não há transportes que te permitam não teres de pedir um carro emprestado... E ando sem Internet!!! 
Habituado, agora, a conviver com 10 milhões de residentes numa só cidade fora os milhares de turistas... Chego ao Porto e tudo parece deserto... Onde estão as pessoas? Emigrou tudo?Ninguem sai à rua? A cidade está deprimida? Não, não é uma urbanidade saloia, não me estou a armar em fino porque agora vivo em Londres... Estranha-se mesmo... Não dá pra criar um mix das duas cidades e chamar-lhe...Pondres!? Fazer uma seleção dos pontos positivos de ambos os sítios, misturar bem, deixar fermentar, forno... Tcharam! Pondres!
Bom... Daqui a nada já volto pra Londres... Tudo volta ao novo normal... Volto mais novo uns anos pois recarreguei baterias, cortei o cabelo e mais umas coisas... É bom voltar a casa! Mas onde é casa?

Sabeis que mais? "Som bidas... Emigradas" (Oporto accent)

Beijos vários,
PM


domingo, 11 de outubro de 2015

16. Crib encontrado!


Após várias semanas angustiantes de procura incessante por um novo poiso em Londres, em que me vi afastado do meu rico blog... Ei-lo...! Amazing double studio flat in a very well maintained Victorian building! Só lhe faltava o show de pirotécnica e 1000 watts de luz e som... É um quadrado senhores!... 
Bom... Pelo menos não fui parar à Trofa de Londres.
Tudo isto começa há cerca de seis meses atrás quando achei que seria boa ideia partilhar casa com uma criatura da terra dos Kilts. Era todo um projecto de vida... Na verdade... Era só uma casa muito jeitosa no célebre bairro de Holland Park. A coisa parecia correr bem e tal e lá avancei... A landlady amorosa, fazia-me cozinhados asiáticos, as pessoas passeavam os cães em Chanel, não havia lixo nas ruas, jardins privativos com tênis... Enfim... Uma maravilha... O problema foi quando a criatura se revelou bipolar e psicótica como a grande maioria dos Britons que conheci até à data.
Há que accionar o plano B. Entrar em modo Brit, ser indiferente ao que se passava e sorrir com os dentes todos... Os meus brancos e cristalinos ao contrário dos da malta de cá... Era tempo de viver a situação mais uns meses e esperar assim pelos seis meses de quebra de contracto. 
Começo o "house hunting", sim esta é a expressão usada é muito bem justificada... Procurar uma casa nesta cidade revelou-se uma aventura mais extenuante do que qualquer Safari numa África profunda!
350.000 e-mails enviados, 130.000 telefonemas feitos, 70.000 questionários preenchidos... 10 visitas agendadas. As casas que me pareciam interessar nunca estavam disponíveis, o meu budget nunca era suficientemente alto... £1000 por um quarto com ou sem janelas parecia razoável aos olhos de qualquer pessoa... Pois a mim tudo me parecia absurdo! Buracos onde as pessoas se sujeitam a viver, desumanos, feios, irrespiráveis, enfim... Tudo quanto há de mau... São justificados com: Isto é Londres... Ao que parece em Londres pode-se viver em cortiços com ratos e ratazanas que se continua a ser Classe A... This is London... Podia tudo isto justificar-se com um precinho bom... Um bargainzinho... Mas não... O metro quadrado de habitação nesta localidade do mundo é o novo ouro... De imensos kilates!!! 
Sábado de manhã lá vou eu ver mais umas propriedades. Dirijo-me a Finsbury Park, uma zona arranjadinha onde à partida não cortam pessoas ás postas as 4 da tarde, e lá está o agente imobiliário à minha espera. Subo pra ver a casa e nada gritava ser sinistro... Paredes no sítio, chão de madeira, conseguia dar 2 passos lá dentro (só mesmo 2), a casa de banho era só pra mim, uma boa parte do meu guarda roupa parece caber lá dentro... Parece-me razoavelmente habitável. I will take it! E ainda bem que assim o fiz... Á saída do prédio já estavam mais 4 pessoas à espera pra verem o meu muquifo. Well bitches... Happy hunting... Esta presa é minha! Paguei o sinal na hora e a propriedade foi retirada de mercado. Pequeninha, limpinha e só minha... Assim será a minha nova micro casa.

São vidas... Arrendadas!

Beijos vários,
PM