Como já tenho vindo a dizer... Odeio dias de coisas... Mas o dia do pai estava-me a incomodar ao ponto de me fazer escrever sobre ele. Possivelmente esta não vai ser uma blogada muito divertida mas antes refletida...
Acordei cedo e cedo comecei a ver posts no facebook ilustrativos do dia do pai... "É o meu herói...", "Amo-te muito...", bla bla bla... Eu não é que não gostasse do meu pai... Eu gostava... Mas era como se me tivessem dito "...este é o teu pai e agora tens de gostar dele..." Pronto... E a malta gosta...
Nunca o meu pai me deu um abraço ou um beijo... Nunca o meu pai me disse que gostava de mim ou que se orgulhava de mim... Sempre foi uma figura distante... Deu-me tudo o que podia e o que não podia... Fez de mim uma pessoa correcta, inteligente, coerente e até sofisticado... sim porque não sou só gordo e outras coisas menos boas... Devo-lhe muito em muitos sentidos... Mas nunca jogou comigo à bola... Não que eu fosse jogar porque um dos requisitos pra se ser gay é não jogar à bola... Mas que fosse jogar um xadrez ou um scrabble como nos filmes americanos... Nada!
Para toda a gente ele era o Mandinho ou o Sr. Machado que toda a gente respeitava e via como alguém muito acima da média. Um homem que sabia estar, simpático, bem sucedido até determinada altura e muito solidário... Quase uma princesa Diana lá da terra... Para mim era o pai... O pai que me exigia ser o melhor em tudo sem desculpa para o não ser... O pai que não me permitia cantar à mesa ou comportar-me de forma desadequada a qualquer casa real europeia... Ao mesmo tempo nunca me proibiu de nada... Comecei a sair à noite com 12 anos... Comecei a viajar com 14 anos e ao contrário de me proibir, ele incentivava... Era como se estivesse a criar um produto o qual queria aperfeiçoar com o passar do tempo... Queria que eu viajasse para adquirir conhecimento, queria que estudasse línguas, queria que eu fosse o seu objeto criativo do qual se orgulhava... Se alguma vez se chegou a orgulhar ou não eu não sei... Vinham-me dizer que ele falava de mim aos outros com grande orgulho... Eu nunca recebi essa mensagem dele... Morreu antes de mo poder dizer, se é que algum dia o iria fazer.
Parte da herança que me foi deixada por ele é o meu problema ou alguns deles... Insegurança, necessidade de agradar e até carência afectiva... Provavelmente fez o seu melhor e mediante a sua visão do que era o melhor... Eu talvez não fizesse um melhor trabalho do que ele fez... Não me revejo no papel de pai e acho que não seria um bom pai até porque estou focado em ser um bom indivíduo e multi tasking nunca foi o meu forte.
Sumariamente o meu pai nunca foi extraordinário enquanto pai mas também nunca foi mau... Acredito que fez o melhor que sabia e eu sou resultado disso... Sou o melhor que sei e posso. Dito isto resta-me dizer que gostar de alguém não deve ser uma obrigação e até hoje ainda não sei se gosto, o quão gosto, porque gosto ou se virei a gostar do meu pai como as pessoas no facebook me fazem sentir que gostam... Mas gostava de gostar.
São vidas... Que são o que são...
Beijos vários,
PM (filho)