domingo, 24 de janeiro de 2016

27. Emigrante


Faz já 1 ano e 7 meses que emigrei... Não foi assim dramático como a Linda de Suza e a sua valise de carton mas também não é como ir de férias pras Maldivas com a havaiana no pé. Vejo muita gente a querer espalhar veneno e a chamar esta geração de emigrantes os emigrantes de samsonite... Sim vim de samsonite prateada em bom e pra rematar uma longchamp pra trazer coisas menores... E então? Isso faz de mim menos emigrante? Não me espantar com a variedade de iogurtes faz de mim menos emigrante? Não ir de vacances apenas no agosto com o meu super carro faz de mim menos emigrante?
Sou um emigrante como qualquer outro que tenha de se deslocar do seu país para tentar alcançar algo melhor para a sua vida... No meu caso não quero juntar dinheiro para fazer uma casa no lugar onde cresci com direito a todos os acessórios piscina incluída ou até mesmo um carro semelhante aos dos patrões da têxtil da Trofa... No meu caso... Nem sei bem... Acho que sair do marasmo que Portugal se tornou para mim nos últimos anos a todos os níveis. Procurei um recomeço que via como promissor... Uma espécie total make over da vida digno de figurar num qualquer programa da Oprah que é tão chegada a epifanias... Mas onde está o meu Ah Ah moment? Onde está o meu Good for you?
Profissionalmente estava cansado de ser explorado e até violentado psicologicamente pelos típicos patrões de BMW de qualquer fabriqueta do Vale do Ave... Foram 12 anos de uma escravidão do séc XXI que é vista com normalidade e até se deve agradecer pois os empregos não abundam... Não é que eu me julgue a princesa Diana dos empregos mas também estava cansado de ser a Xica da Silva dos mesmos... Vim para Londres sem qualquer perspectiva profissional achando que aqui, enquanto primeiro mundo, iriam reconhecer todo este esforço de um passado de vassalagem e iria rapidamente arranjar um trabalho que me trouxesse auto realização e uma remuneração à altura. As coisas não foram assim tão românticas como num filme de Domingo à tarde... Após ter sido enganado por uma Anglo-asiatica a quem desejo uma morte lenta e dolorosa e depois de muita procura lá encontrei um trabalho...  Gosto imenso do que faço mas também não é nenhum sonho... O meu patrão suíço podia quase ser da Trofa... Bem talvez não da Trofa mas... Assim um Pacos de Ferreira... Para ele alguém que trabalhe apenas as 40h que estão estipuladas na lei e as quais ele paga... É ridículo! Já me foi dito que venho de um país roto e por isso não posso fazer a diva como os Ingleses e querer só trabalhar as 40h, ou se possível, menos. Será que enquanto português tenho apenas direito a ter uma vida sofrida para não se perder a tradição no fado? Tou fora... Eu nem gosto de fado apesar de agora tão estar na moda como os hambúrgueres gourmet! Profissionalmente a epifania ainda não chegou mas ainda existem 2 temas a debater tal como faria qualquer cartomante que não a Maria Helena pois essa é só um tema de cada vez... Amor e saúde!
Saúde não há muito a dizer... Nesta cidade come-se mal e porcamente, bebe-se litros de álcool e os níveis de poluição assemelha-se a viver continuamente ligado a um tubo de escape de uma Zundap...
Temos então o amor... Sendo esta uma cidade de 9 milhões de pessoas, fora os turistas de máquina fotográfica em punho, esperava-se que múltiplas oportunidades espreitassem ao virar da esquina... Errado!  
Venho de Portugal fugido de um amor que terminou da pior forma e que não desaparecia do meu campo cósmico por mais que tentasse... E tentei bastante! Anos de tentativas... E não... Não estou a falar de Portugal na Eurovisão... Por mais substituições que metesse, algumas que nunca deveriam ter saído do banco e outras com bom desempenho em campo, o convocado era sempre o finado amor... Foram 7 anos de campeonatos ganhos que terminaram numa traição ao nível do Jorge Jesus agora no Sporting... Agora já livre dessa assombração esperava que novos desafios surgissem... Londres não tem ajudado... Ou estão apenas de passagem, ou são considerados border line, ou são mais feios que Woolwich num dia de chuva... Ou nem dão pela minha humilde existência. Até agora não consegui voltar a formar equipa... E eu quero jogar! Quero saltar nos sofás da Oprah como fez o Tom Cruise... Quero formar parceria. 
Em suma... O caminho tem sido árduo e longo e a minha Samsonite lá se vai aguentando aos buracos de quelhas e vielas esperando um dia chegar ao destino e ser trocada por uma Globe-Trotter... 

São vidas... De emigrante Samsonite 

Beijos vários,
PM

domingo, 10 de janeiro de 2016

26. Turismos e outras cenas


Este fim‑de‑semana começou na Quinta-feira... 
Uma vez que tinha visitas vindas Espanha e como tinha trabalhado o sábado anterior, decidi tirar a sexta-feira de folga e ainda bem que assim o fiz...
Na quarta-feira, e porque já começo a ficar saturado de que me tratem como um emigrante que vem de um país com dificuldades económicas que aos olhos de um Suíço se equipara a uma África profunda com barrigas linha Biafra incluídas, e após uma discussão feia com o patrão quase esquizofrenica atingindo decibéis não autorizados em zonas residenciais... Demiti-me! Mas demito-me em bom... Escrevi um e-mail digno de figurar na frontpage do The Times uma vez que a chefia me havia dito que não tinha tempo para lidar com o meu ego... Respeitar horário de trabalho e não correr riscos desnecessários chama-se ego... Não sei em que parte do mundo mas ao que parece é isso... Blá blá blá... Pos Tratado de Berna... Quer conversar... Pois bem... Será um tema para os próximos capítulos.
Resolvi encarnar o gajo urbano e despreocupado que vive cada dia como sendo o último e tendo um turista comigo... Virei também turista. De facto a cidade de Londres enquanto turista é extraordinária... Foram dias onde não houve um minuto onde sequer pensei um fração de segundo o que fazer ou que não havia nada para fazer. Quinta-feira pos laboral e após um update ao sistema... Sendo que eram já 23h fomos jantar a China Town... Uma vez que nesta cidade tudo fecha cedo, os chineses sendo os Biafras asiáticos nunca param... O belo do pato á Pequim com panquecas e cebolinho é mais não sei que soube-me quase tão bem como rojões em Ponte de Lima.
Sexta-feira o dia começa chuvoso mas eu destemido e despreocupado minorizo o facto e botamos pés a caminho de Hampstead... Um Bairro onde parece que não estamos em Londres mas antes numa vila Inglesa de gente rica, simpática e bem disposta, com casas maravilhosas, jardins e parques e pequenas lojas que podiam ser parte de um cenário de filme... Uma espécie de Sintra Londrina... Imaginem só que a criatura que inventou o conceito de longitude está lá enterrado... Sobre a latitude nada sei...
Ainda no parque de Hampstead Heath e antes de chegar a Camden Town, vejo pessoas a nadar no lago... Da mesma forma que me pergunto se as bifas que saem à noite de vestidos de alças sem collants não tem frio também me impressionam estes... Este povo não tem frio??? Ou só teram frio dentro de casa???... Sim porque os aquecimentos bombam larguete! Não é que estivessem graus negativos... Mas feels like negativos vários!
Chegado à Punkolandia,sem Punks e cheio de turistas que se dá pelo nome de Camden Town, dei também uma de turista e vi atentamente todas as quitandas com produtos pensamos para o turista... A tshirt com mensagem disparatada, o acessório ridículo, a comida do mundo... Etc... Até tirei uma fotografia com a estátua sinistra da falecida Amy Winehouse!
Hora de almoçar... Horas de Espanha... 3 da tarde estava eu a chegar a um restaurante Português em Camden chamado O Tino... O nome indica tudo... Uma tasquinha com uma TV maior que a parede ligada na SIC... Lá dentro só portugueses de uma profundidade intensa onde se destaca o Sor Tino... Barriga à patrão, bigodaça e tudo sai em diminutivos... Oh chefe... Vai um vinhinho? Ora sai então um pastelinho de bacalhau... Optamos pela carne de porco à Alentejana e bacalhau à lagareiro... Compartido como manda a lei Espanhola e proibida pelos Ingleses... Jamais um Inglês partilharia comida... Aí de quem toque no seu prato ou travessa... 
Tal como manda a tradição o dia só poderia terminar com um musical... Beautiful - Carol King... Nunca antes tinha ouvido falar desta senhora... Ao que parece compôs muitas das musicas que conhecemos entre as quais a Locomotion que para mim era da Kylie Minogue de toda a vida... Pois não é! Tal como todos os musicais que vi em Londres, este estava também muito bem feito... Eles cantam, eles dançam, eles contam a história, o cenário muda, roda, sobe e desce e eu rio e choro, canto e danço... Não será uma obra prima de Verdi ou algo assim mas pouco me interessa... Gostei!
Sábado julgo que não há nenhum turista em Londres que não vá a Portobello Road Market... Esta foi das atrações turísticas que mais me impressionou quando vim pela primeira vez a Londres há 20... Bom... Há muitos anos atrás...  É como um museu ao ar livre com as suas antiguidades mas mais divertido e despretensioso e imaginem... Pode-se comprar! Música aqui e ali... Mais comidas do mundo... Pessoas estranhas a dar cor... Um mercado de Londres...
Aproveitando a localização passei por Holland Park... O meu antigo neighbourhood que faz a Foz parecer o bairro do Cerco e as Antas um bairro de gunas de Gaia que não sei o nome por ser margem sul... Tudo é em bom, tudo é em fino mas aborrecido que dói... Áparte da casa dos Beckham e da Adele que ora numa se treinam as poses pras revistas e na outra grita-se imenso...
A fome já chamava como se tivesse uma Adele dentro de mim a gritar musicas depressivas com as quais as xonas se identificam muito pois também estas criaturas têm vidas sofridas... Fish and Chips num pub local do mais típico que há... Típico para a zona em questão... Beto à quinta casa! Existirá uma convenção mundial para a betada não mexer a boca quando fala e tudo é fabuloso ou extremamente aborrecido?
Cansei de ser sexy e já tinha a barriga cheia... Siga para o Harvey Nichols ver os saldos... Eu até estava a precisar de um card holder... Sabem aquelas carteiras de por só cartões? Pois bem... Eu tentar tentei, mas por menos de £100 por uma Tom Ford com um preço inicial de £300 não havia negócio para ninguém... Era uma oportunidade... Era apenas 1/3 do preço inicial... Mas é apenas um rectângulo de pele valha-me Deus... No mínimo teria de ter sido curtida pelo próprio Tom... Com os seus próprios dentes... Ou veneers que ele é gajo de veneers... Achei melhor subir ao terraço e beber um gin tónico para esquecer... Linha Ab Fab mas sem os Lacroix da vida...
Seguia-se um jantar com 3 espanhóis, um inglês, 2 portugueses (comigo incluído) e 1 iraniano até porque estava a faltar exotismo nesta mesa... Siga a um restaurante português! As porções de comida eram gigantes... Cada dose individual dava para alimentar uma Paróquia no Zimbábue... Assim se vê como nós Portugueses gostamos de comer... Que nunca nos falte o pão na mesa... Amen!
Pronto... O resto não me apetece estar a contar... Fomos todos bailar ao Duckies, esta manhã acordar e ir comer o Sunday Roast... Sabiam que existem cenouras roxas e brancas? Ao que parece as brancas é que são as originais... 
Bom... Foram uns belos dias...

Vidas... Turisticas...

Beijos vários,
PM

domingo, 3 de janeiro de 2016

25. HNY2016


Após umas breves férias no Porto e arrabaldes, é tempo de voltar à labuta em Londres.
Volto no voo das 6.30 da Ryanair que tem um precinho jeitoso e ainda dá pra um gajo ir trabalhar de seguideira. Novas amizades feitas no avião... estou de volta e cheguei e disse... Toca a botar o fato e a gravata que há muito que fazer... O emigrante fugido de um país em crise tem mais é que trabalhar muito pra compensar o tempo que não trabalhou, uma vez que esteve de férias e férias são só pra países ricos. 
A cidade estava morta... Muitos dos Deli ou cafés estavam fechados, as ruas não estavam pejadas de gente com ou sem sapatos sinistros e as linhas de metro, muitas delas, estavam em obras. Surpreendentemente o meu calendário, para os próximos dias que se avizinhavam, estava a rebentar pelas costuras acabando até por resultar em overbooking... É certo que gosto que me queiram assim tanto mas aqui tratava-se apenas de trabalho... Vi de tudo um pouco... 3 irmãos dinamarqueses com corpos esculpidos por Da Vinci (na falta do meu conhecimento em escultores nórdicos), um celebrity entrepeneur que decidiu oferecer fatos a alguns dos seus colaboradores, um desgraçado que vivia numa zona manhosa, numa casa digna de um filme passado no Bronx onde o serial killer colecciona fotos de alvos a abater, um Sri Lankense com sobrenome português (pelos vistos é muito comum no Sri Lanka) que é designer de aeroportos... Sim existe gente no mundo que fez formação só pra planear aeroportos... Um puto posh armado aos cágados, um árabe que está a pensar casar lá pra setembro e portanto adiantou-se com a vestimenta... Enfim... Estes entre muitos outros formam um melting pot de gente não muito convencional para quem vive em Portugal, já que, bastam os chineses para serem criados mitos como o de que não há funerais chineses em Portugal porque eles fazem Chop Soy dos mortos ou até o mito do peixe que vem de Espanha ser seco... Como se o peixe que nada ali em Vigo fosse proibido de nadar até à Povoa do Varzim ou vice-versa... E por isso os Espanhóis são também já quase aliens...
Os dias foram passados a correr de um lado pro outro sem tempo sequer para organizar uma saída nessa extraordinária noite de Passagem de ano... Ficar em casa soava-me demasiadamente deprimente e portanto tinha de fazer qualquer coisa... Os posts de Miss simpatia a desejar paz no mundo no facebook estavam-me a deixar impaciente para que o ano acabasse e essa ocasião deveria ser celebrada. Assim que comecei a ver quais as possíveis festas onde podia fazer o countdown para a meia noite, rapidamente me apercebi que já tudo estava esgotado... Mesmo com preços proibitivos... Acontece que, em Londres, talvez por causa do frio, não se festeja na rua... Todos ou quase todos os bares, restaurantes e outros estabelecimentos comerciais fecham as portas abrindo apenas para quem comprar um bilhete antecipadamente planeando assim o local da auto destruição com álcool e drogas. Muita pesquisa mais tarde lá encontrei uma opção ainda válida... Horse Meat Disco no The Nest... Tudo indicava ser seguramente uma noite divertida no coração da zona mais cool de Londres, Dalston... Esta é uma festa que mistura gay Bears com música disco... À partida parece que a coisa não é miscível uma vez que os Bears são muito machões e não dançam de todo ou abanam-se apenas ligeiramente sem tshirt ao som de música techno de gosto duvidoso na esperança que alguém lhes vá fazer festinhas no pelo... Por uma razão que desconheço... Os Bears dançam disco... Mas não é um bear qualquer... É o bear cool...
Após muito correr a trabalhar e um repasto turco mais tarde... Festa!
Começo a ver as pessoas que iam para a mesma festa e nada se parecia com o expectável... Muitos casais heterossexuais na casa dos vintes... Muitos grupos de miúdas prestes a ficarem bebedas encostadas a valeta de perna aberta e muitos grupos de rapazes que se iam aproveitar da falta de lucidez dessas mesmas raparigas. Nada se assemelhava ao que seria expectável... O sítio era escuro que nem breu e custou-me umas boas horas para conseguir ver o que se passava lá dentro mas ainda assim fiquei sem perceber nada... Realmente os casais heterossexuais lá estavam e os rapazes a engatar as raparigas também... Mas de repente tudo mudava... Esses mesmos rapazes, não sei se seria pra variar, de repente era uns com os outros como os txinenses ( como diz a senhora do vídeo)... Seria o poder do Disco, seriam as drogas ou será a nova tendência ser-se polisexual? Será que me devo começar a sentir velho por não entender esta nova realidade? Alguém informe o da Câmara Pereira que já ninguém é gay por moda... Isso é super last season... Agora é-se polisexual que vai bem com tudo... Literalmente!
Passou-se assim mais uma ano repleto de novas experiências e muitas mais venham neste ano que se inicia... O que o futuro me reserva eu não sei mas prometo contar aqui tudo da melhor maneira possível... Como a graça possível...
São vidas... Velhas e novas... Evolutivas...

Beijos vários,
PM